Por: Eliane Baatsch*
Em muitas literaturas que fornecem informações sobre os equinos, enfocam comportamentos, sua vivência em sociedade animal, suas características físicas e de temperamento, visão, olfato, andadura, sistema digestório, biomecânica, manejo, hipologia, etologia, enfim muitos conhecimentos direcionados ao mundo do cavalo, mas nenhuma literatura explica o vínculo do cavalo de equoterapia com o seu praticante ou até mesmo com as pessoas envolvidas no setting terapêutico.
Não sei se seria a palavra certa, humanizar ou tratar o cavalo como cavalo. Ou, cavalo como amigo, cavalo como uma máquina apenas para exercer suas funções de trabalho, ou cavalo para esporte.
Será que o cavalo é apenas condicionado com o praticante, porque este leva cenoura em todos os seus dias, direcionando o animal a um vício, ou a um estímulo Behaviorista de estímulo e resposta?
O cavalo educado é aquele que não morde (beijo do cavalo – depende), não interage, é manso, dócil, não murcha a orelha quando é tocado ou encilhado (muito raro não murchar – quando é apertado), não apresenta reações e aceita quase tudo o que lhe é solicitado.
Mas, uma dúvida que sempre fica é: porque a relação entre o cavalo de equoterapia e o praticante existe?
Nem sempre o praticante ou a equipe do centro de equoterapia tem cenoura para oferecer, mas é perceptível a construção de uma relação de confiança recíproca e mútua, através de uma amizade adquirida com o tempo de convivência.
As relações se estabelecem, a confiança é gradativamente construída, os movimentos e ações são compreendidas, o vínculo é correspondido e criado a cada sessão, aos momentos e percepções.

O cavalo de equoterapia é o animal que mais recebe contato físico com as pessoas, com o toque, nas experiências sensoriais, afago, abraço, cheiro e beijo. Este também se acostuma com a nova convivência, afinal é um animal de porte e força, beleza escultural e sempre usado na maioria das vezes não para o afago ou experiências sensoriais e hormonais, mas para a montaria em seu dorso.
Talvez esse carinho contemple, essa relação com uma vivência diferente do equino com o seu praticante, torne o mais plausível de estabelecer outro tipo de convivência com o ser humano. Afinal, equoterapia não é só montaria.
E este animal na visão familiar é amado, respeitado, admirado, pelas evoluções, melhora na qualidade de vida e muitas vezes essencial na estabilidade emocional do praticante.
A explicação não tem um direcionamento único, porque em cada abordagem terapêutica se aplica uma realidade diferenciada, uma relação estabelecida que auxilia no processo de alcance dos objetivos terapêuticos.
O cavalo ainda apresenta as suas características de temperamento, reações, porque não deixa de ser um animal, mas algumas são aprimoradas com o decorrer da sua rotina, aprendizagem, treinamento e convivência.
Escutei muito na dinâmica terapêutica a importância de não estragar o cavalo com vícios adquiridos depois de situações ao qual o cavalo interagisse mais, solicitasse a presença do ser humano, como alimentação sem ser em horários específicos. Mas para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que apresenta características de défict de interação e socialização entre outras, um cavalo apresentando uma interação com o ser humano em maior manifestação é esteriotipado como um vício. E o aspecto sensorial, a coordenação motora fina ao ralar uma cenoura para alimentar o seu amigo que te espera em todas as sessões? E o vínculo construído? Algo que precisa pensar, refletir, construir e aprender sempre…
Porque o cavalo de equoterapia é diferente, é treinado para habilitar e reabilitar pessoas com deficiência.
E aqui deixo minha reflexão sobre a construção do vínculo com esse animal de porte grande, capaz de encantar pela sua beleza, porte e força, mas que faz o ser humano o amá-lo e ser grato.
“O cavalo não é uma máquina, estabelece amizade, tem suas empatias e para muitos praticantes, famílias e profissionais do setting terapêutico são anjos de quatro patas! Merecem respeito, descanso, cuidado, afagos e amor”.

*Eliane Cristina Baatsch é pedagoga e psicopedagoga, especializada em deficiência múltipla. Atua como equoterapeuta, coordenadora da Hípica Santa Terezinha, instrutora de equitação clássica, equitação para equoterapia e de volteio terapêutico, e também como presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Carapicuíba (CMPD).
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