Por: Deborah Boschetti*
O aumento da longevidade em indivíduos com deficiência intelectual evidencia a necessidade de estudos específicos para essa população, no que tange a percepção de seu desenvolvimento cognitivo e emocional.
Nos dias atuais, é comum que essas pessoas tenham que lidar com a perda de parentes, principalmente dos pais, uma vez que o envelhecimento e a diminuição de funções fisiológicas chega tanto para eles, quanto para seus filhos.
O luto e a deficiência intelectual
Muitas vezes, a pessoa que envelhece com deficiência intelectual, além de perder seus pais ou cuidador, perde também seus espaços, pois com a morte dos responsáveis passam a morar com um irmão ou curador, em outra casa.
Em um espaço diferente, precisam se adaptar com a nova família, com uma nova casa, uma nova rotina, fazendo com que o luto e a angústia sentida sejam em vários outros aspectos que não só a morte.
Faz-se necessário, dessa forma, preparar essas pessoas e acompanhá-los no processo de enlutamento, para que suas emoções sejam externalizadas de maneira bem sucedida – configurando o luto normal.
Devido à deficiência e declínio cognitivo, muitas vezes a pessoa com deficiência intelectual tem dificuldade para entender o que se passa com relação à morte de uma pessoa querida ou até mesmo de comunicar ou expressar seus sentimentos. Isto faz com que ela demonstre alterações no seu comportamento e humor, através do isolamento, irritabilidade, falta de motivação nas suas atividades sociais e da vida diária, doenças, entre outros.
O que é preciso para lidar com a situação?

Outro fator importante em relação ao luto de pessoas com deficiência intelectual é a falta, na maioria dos casos, de espaços de escuta terapêutica que possibilitem a eles expressar o que lhes angustia. Como apontam alguns estudos, essas pessoas têm suas emoções negligenciadas na maior parte do tempo. Assim sendo, torna-se uma barreira significativa à possibilidade de expressão, de manifestação da dor e da revolta legitimadas pela perda.
Essa dificuldade de expressão e, em alguns casos até a negação, pode contribuir para a construção de um luto dolorido.
Em pessoas com deficiência intelectual a comunicação é, por si só, um obstáculo a ser vencido. Em casos de perda de familiares, a dor e a não compreensão do quadro que se instaura podem levar à elaboração do luto, em modo complicado.
Dentre as inúmeras possibilidades de intervenção é primordial que o suporte seja dado de modo acolhedor aos familiares atentando-se, principalmente, àqueles que, por falta de acesso a uma rede de suporte psicossocial, estejam em situação de maior risco.
É necessário que o terapeuta, num primeiro momento, auxilie o indivíduo a se dar conta da perda, isto é, auxiliá-lo a não negar o que aconteceu, podendo rememorar o episódio.
Outro princípio importante está no incentivo à identificação e expressão dos sentimentos do enlutado. Como? Auxiliando-o na expressão e identificação dos sentimentos pelos quais está tomado naquele momento (por exemplo, raiva, indignação, entre outros).
Aprender a lidar com a ausência é outro passo fundamental, e difícil, de ser dado no processo de aceitação e ressignificação da própria vida, é uma construção que deve envolver o incentivo à habilidade de lidar com situações adversas e reagir positivamente à ela.
Ainda que não exista uma fórmula a ser seguida, é importante ressaltar que, o luto é um processo doloroso porém comum, dentro da possibilidade de expressão da dor. Precisamos ficar atentos ao comportamento da pessoa envelhecida com deficiência intelectual enlutada, para verificar se a dor e a insatisfação estão de acordo com a ‘normalidade’. O tempo de aceitação de cada um é único, juntamente com a resposta do indivíduo ao processo.

*Deborah Boschetti é graduada em Psicologia pela Faculdade Metropolitana Unida – FMU. Especializada em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Especializanda em Neuropsicologia pelo Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas – FMUSP. Atua nos temas voltados à deficiência intelectual, envelhecimento humano e demência. Psicóloga no Departamento de Envelhecimento da APAE DE SÃO PAULO.
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